E lá estava eu, em pele de Verônica recitando um poema meu. Ele me olhava, como se quisesse despir-me em seus olhos de admiração. Achando que aquilo tudo eu já havia experimentado, ou, desejado e aprimorado com a prática. Não. Aquilo era pesquisa e trabalho sério, era arte, era poesia. Não, aquela era a Verônica, personagem criado minuciosamente para vender livros, conceitos, ideias, mas que fazia parte de mim, uma parte esquecida, abafada, contida. Cada detalhe: salto 15 vermelho, vestidos que eu chamava pela marca. Eu, uma pessoa atrás daquele mulherão. Tímida, insegura, com um amor quase incondicional pela vida, apenas humana, real e altamente atenta a todos. Todos aqueles olhos de desejo que me incomodavam. Ela, Verônica, gostava de tudo aquilo, achava graça, ficava cada vez mais ousada, insensível, forte. Não tinha medo de palco como eu, não gaguejava, não ficava com a boca seca. Pelo contrário, dava um show, tirava risos da plateia e adorava as palmas do final. Gostava de luxo,...