Presente, presença
Hoje recebi um presente. Recebi em mãos, por ter ficado esperando, ontem, quem não chegou, teve milhões de coisas para fazer, não lembrou nem de responder, não teve tempo, disposição, vontade, não queria estar presente.
Hoje lembrei. De quantas vezes isso aconteceu em longos anos que estivemos juntos e pasmei. Pasmei porque foram tantas, incansáveis ausências que cansei de contar, de me importar, de esperar, de desculpar.
Dei fim. Ao que já era o fim, e de medo do recomeço, recomeçava várias vezes do nosso ponto: costurando, reciclando, esmorecendo, aborrecendo, desligando.
Apenas fachadas. Fomos fachadas de cidades mortas. Frias ruelas escuras e poluídas de falta. Hoje percebi que eu precisava apenas de uma gota d'água, a última gota. Um oceano nesta lua minguante.
Nada mais importa. Na ausência desse vazio, apenas o eco das ilusões que construímos e que hoje reverberam nas pardes, nos porta-retratos que ainda não esvaziei.
E a vida passa lenta. Em vidas de lentidão e falta de vontade, os anos passam e a gente nem vê. Vai ficando duro como pedra e amargo feito boldo. Um inverno só.
E a vida te mostra, mas você não quer enxergar ou se faz de dura o suficiente para se transformar em tanto faz... Em ausência.
E então ontem, mais uma vez, eu fiquei lá, no banco de reservas, rodeada de times que me querem como artilheira de primeira divisão e eu, por pura teimosia, continuava na espera de uma convocação.
Chega de ficar esperando. O teu presente não cabe mais na minha espera. Sobraram apenas as lembranças, os falsos sorrisos de fachada, esse imenso vazio guardado em meu peito e a presença dos ausentes que se vão.
Verônica Vincenza.
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